O Papa Francisco concedeu uma entrevista exclusiva ao jornal italiano Corriere Della Sera, publicada na segunda-feira (02.05.55), na qual externou uma opinião sobre a responsabilidade pelo início da guerra na Ucrânia semelhante à posição do ex-presidente Lula (PT) na entrevista à revista norte-americana Time, publicada nesta quarta-feira (04.05.22). Para o Sumo Pontífice, “a origem da guerra foi a Otan latindo às portas da Rússia” e “a raiva de Putin pode não ter sido provocada, mas foi facilitada”.
Na Time cuja capa estampa a foto de Lula com a manchete “O segundo ato de Lula. Líder mais popular do Brasil busca retorno à presidência”, Lula falou: “Às vezes, fico vendo o presidente da Ucrânia na televisão como se estivesse festejando, sendo aplaudido em pé por todos os parlamentos, sabe? Esse cara é tão responsável quanto o Putin. Ele é tão responsável quanto o Putin. Porque numa guerra não tem apenas um culpado. O Saddam Hussein era tão culpado quanto o Bush. Porque o Saddam Hussein poderia ter dito: ‘Pode vir aqui visitar e eu vou provar que eu não tenho armas’”, afirmou Lula à revista.
O ex-presidente disse entender que a invasão foi um erro. Mas salientou que Zelenski poderia ter agido diferente para conter o conflito.
“Ele [Zelensky] quis a guerra. Se ele [não] quisesse a guerra, ele teria negociado um pouco mais. É assim. Eu fiz uma crítica ao Putin quando estava na Cidade do México, dizendo que foi errado invadir. Mas eu acho que ninguém está procurando contribuir para ter paz. As pessoas estão estimulando o ódio contra o Putin. Isso não vai resolver. É preciso estimular um acordo”, argumentou Lula.
“Você fica estimulando o cara [Zelensky], e ele fica se achando o máximo. Ele fica se achando o rei da cocada, quando na verdade deveriam ter tido conversa mais séria com ele: ‘Ô, cara, você é um bom artista, você é um bom comediante, mas não vamos fazer uma guerra para você aparecer’. E dizer para o Putin: ‘Ô, Putin, você tem muita arma, mas não precisa utilizar arma contra a Ucrânia. Vamos conversar!’”, defendeu Lula.
Após a repercussão, a embaixada da Ucrânia pediu uma reunião com o ex-presidente petista.
No Vaticano

No Brasil, a fala de Lula ao veículo dos EUA foi explorada e distorcida em praticamente todos os meios de comunicação. Já às palavras do Papa Francisco, parecidas com as do líder petista, que pede mais diálogo foi bem aceita pela comunidade internacional.
“É claro que foi necessário que o líder do Kremlin permitisse algumas janelas. Ainda não recebemos uma resposta e continuamos a insistir, embora receie que Putin não possa e não queira ter esta reunião agora . Mas com tanta brutalidade, como não parar? 25 anos atrás, experimentamos a mesma coisa com Ruanda”, disse Francisco.
O líder católico falou ainda da necessidade de visitar a Ucrânia e a Rússia e que a Igreja Católica vai buscar solução real para o fim da guerra.
“Sinto que não tenho que ir. Primeiro tenho que ir a Moscou. Primeiro tenho que me encontrar com Putin”, explicou.
“Estou muito longe da questão de saber se é certo fornecer os ucranianos. O que está claro é que as armas estão sendo testadas naquela terra. Os russos agora sabem que os tanques são de pouca utilidade e estão pensando em outras coisas. As guerras são travadas para isso: para testar as armas que produzimos. Foi o caso da Guerra Civil Espanhola antes da Segunda Guerra Mundial”, concluiu o Papa Francisco.
Time pira bolsonaristas

A capa da revista de maior circulação nos Estados Unidos e uma das publicações mais importantes do mundo foi um dos assuntos mais comentados nesta quarta-feira nas redes sociais de internet, ganhou destaque em todos os grandes meios de comunicação brasileiros e irritou, não só os filhos do presidente da República Jair Bolsonaro, mas também grande parte de bolsonaristas.
“O segundo ato de Lula. Líder mais popular do Brasil busca retorno à presidência”, diz a manchete de capa, e prossegue em sua contextualização jornalística: “O presidente mais popular do Brasil retorna do exílio político com a promessa de salvar a nação”, em referência à sua prisão em Curitiba, que tirou o petista da disputa pela Presidência da República em 2018.
“A volta de Luiz Inácio Lula da Silva à linha de frente da política foi uma bomba para o Brasil”, diz a revista em referência ao restabelecimento dos direitos políticos de Lula pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
“Lula, que lançará oficialmente sua pré-candidatura no dia 7 de maio, promete levar o Brasil de volta aos bons tempos da sua (2003-2010), que ele encerrou com taxa de aprovação de 83%. Isso implicaria reviver uma economia debilitada, salvar uma democracia ameaçada e recuperar uma nação marcada pela segunda maior taxa mundial de mortalidade à Covid-19 em dois anos de gestão caótica da pandemia. Até o momento, as promessas estão surtindo efeito: Lula aparece nas pesquisas com 45% das intenções de voto, contra 31% de Bolsonaro”.
Veja um trecho da entrevista da TIME
Quando o Supremo Federal restaurou seus direitos políticos no ano passado, você já, segundo a mídia brasileira, se preparando para uma vida mais tranquila, fora da política. Você decidiu voltar à política quando isso aconteceu?
“Eu na verdade nunca desisti da política. A política está em cada célula minha, a política está no meu sangue, está na minha cabeça. Porque o problema não é a política simplesmente, o problema é a causa que te leva à política. E eu tenho uma causa”.
“Há uma espera que eu volte a presidir o país porque as pessoas têm lembranças do tempo em que eu fui presidente”.
“O americano tem um jogador, que aliás é muito bem casado com uma brasileira que é modelo, e que é o melhor jogador do mundo há tempo. A cada jogo a torcida faz com que ele jogue melhor do que no jogo anterior. No caso da Presidência é a mesma coisa. Só tem sentido que eu acredito na Presidência da República. Eu acredito que eu sou capaz de fazer mais e melhor do que eu já fiz”, afirma Lula na entrevista concedia em março deste ano. Por isso o bolsonarismo “pirou”.
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