Papa Francisco concorda com Lula: “Origem da guerra foi Otan latindo às portas da Rússia” e a “raiva de Putin”

O Papa Francisco concedeu uma entrevista exclusiva ao jornal italiano Corriere Della Sera, publicada na segunda-feira (02.05.55), na qual externou uma opinião sobre a responsabilidade pelo início da guerra na Ucrânia semelhante à posição do ex-presidente Lula (PT) na entrevista à revista norte-americana Time, publicada nesta quarta-feira (04.05.22). Para o Sumo Pontífice, “a origem da guerra foi a Otan latindo às portas da Rússia” e “a raiva de Putin pode não ter sido provocada, mas foi facilitada”.

Na Time cuja capa estampa a foto de Lula com a manchete “O segundo ato de Lula. Líder mais popular do Brasil busca retorno à presidência”, Lula falou: “Às vezes, fico vendo o presidente da Ucrânia na televisão como se estivesse festejando, sendo aplaudido em pé por todos os parlamentos, sabe? Esse cara é tão responsável quanto o Putin. Ele é tão responsável quanto o Putin. Porque numa guerra não tem apenas um culpado. O Saddam Hussein era tão culpado quanto o Bush. Porque o Saddam Hussein poderia ter dito: ‘Pode vir aqui visitar e eu vou provar que eu não tenho armas’”, afirmou Lula à revista.

O ex-presidente disse entender que a invasão foi um erro. Mas salientou que Zelenski poderia ter agido diferente para conter o conflito.

“Ele [Zelensky] quis a guerra. Se ele [não] quisesse a guerra, ele teria negociado um pouco mais. É assim. Eu fiz uma crítica ao Putin quando estava na Cidade do México, dizendo que foi errado invadir. Mas eu acho que ninguém está procurando contribuir para ter paz. As pessoas estão estimulando o ódio contra o Putin. Isso não vai resolver. É preciso estimular um acordo”, argumentou Lula.

“Você fica estimulando o cara [Zelensky], e ele fica se achando o máximo. Ele fica se achando o rei da cocada, quando na verdade deveriam ter tido conversa mais séria com ele: ‘Ô, cara, você é um bom artista, você é um bom comediante, mas não vamos fazer uma guerra para você aparecer’. E dizer para o Putin: ‘Ô, Putin, você tem muita arma, mas não precisa utilizar arma contra a Ucrânia. Vamos conversar!’”, defendeu Lula.

Após a repercussão, a embaixada da Ucrânia pediu uma reunião com o ex-presidente petista.

No Vaticano

No Brasil, a fala de Lula ao veículo dos EUA foi explorada e distorcida em praticamente todos os meios de comunicação. Já às palavras do Papa Francisco, parecidas com as do líder petista, que pede mais diálogo foi bem aceita pela comunidade internacional.

 “É claro que foi necessário que o líder do Kremlin permitisse algumas janelas. Ainda não recebemos uma resposta e continuamos a insistir, embora receie que Putin não possa e não queira ter esta reunião agora . Mas com tanta brutalidade, como não parar? 25 anos atrás, experimentamos a mesma coisa com Ruanda”, disse Francisco.

O líder católico falou ainda da necessidade de visitar a Ucrânia e a Rússia e que a Igreja Católica vai buscar solução real para o fim da guerra.

“Sinto que não tenho que ir. Primeiro tenho que ir a Moscou. Primeiro tenho que me encontrar com Putin”, explicou.

“Estou muito longe da questão de saber se é certo fornecer os ucranianos. O que está claro é que as armas estão sendo testadas naquela terra. Os russos agora sabem que os tanques são de pouca utilidade e estão pensando em outras coisas. As guerras são travadas para isso: para testar as armas que produzimos. Foi o caso da Guerra Civil Espanhola antes da Segunda Guerra Mundial”, concluiu o Papa Francisco.

Time pira bolsonaristas

A capa da revista de maior circulação nos Estados Unidos e uma das publicações mais importantes do mundo foi um dos assuntos mais comentados nesta quarta-feira nas redes sociais de internet, ganhou destaque em todos os grandes meios de comunicação brasileiros e irritou, não só os filhos do presidente da República Jair Bolsonaro, mas também grande parte de bolsonaristas.

“O segundo ato de Lula. Líder mais popular do Brasil busca retorno à presidência”, diz a manchete de capa, e prossegue em sua contextualização jornalística: “O presidente mais popular do Brasil retorna do exílio político com a promessa de salvar a nação”, em referência à sua prisão em Curitiba, que tirou o petista da disputa pela Presidência da República em 2018.

“A volta de Luiz Inácio Lula da Silva à linha de frente da política foi uma bomba para o Brasil”, diz a revista em referência ao restabelecimento dos direitos políticos de Lula pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

“Lula, que lançará oficialmente sua pré-candidatura no dia 7 de maio, promete levar o Brasil de volta aos bons tempos da sua (2003-2010), que ele encerrou com taxa de aprovação de 83%. Isso implicaria reviver uma economia debilitada, salvar uma democracia ameaçada e recuperar uma nação marcada pela segunda maior taxa mundial de mortalidade à Covid-19 em dois anos de gestão caótica da pandemia. Até o momento, as promessas estão surtindo efeito: Lula aparece nas pesquisas com 45% das intenções de voto, contra 31% de Bolsonaro”.

Veja um trecho da entrevista da TIME

Quando o Supremo Federal restaurou seus direitos políticos no ano passado, você já, segundo a mídia brasileira, se preparando para uma vida mais tranquila, fora da política. Você decidiu voltar à política quando isso aconteceu?

“Eu na verdade nunca desisti da política. A política está em cada célula minha, a política está no meu sangue, está na minha cabeça. Porque o problema não é a política simplesmente, o problema é a causa que te leva à política. E eu tenho uma causa”.

“Há uma espera que eu volte a presidir o país porque as pessoas têm lembranças do tempo em que eu fui presidente”. 

“O americano tem um jogador, que aliás é muito bem casado com uma brasileira que é modelo, e que é o melhor jogador do mundo há tempo. A cada jogo a torcida faz com que ele jogue melhor do que no jogo anterior. No caso da Presidência é a mesma coisa. Só tem sentido que eu acredito na Presidência da República. Eu acredito que eu sou capaz de fazer mais e melhor do que eu já fiz”, afirma Lula na entrevista concedia em março deste ano. Por isso o bolsonarismo “pirou”.

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ONU considera Sergio Moro parcial em julgamento de Lula. Para comitê direitos de Lula foram violados em 2018

O Comitê de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) concluiu que o ex-juiz Sergio Moro foi parcial em seu julgamento dos processos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no âmbito da Operação Lava Jato. A informação foi dada em primeira mão pelo jornalista Jamil Chade , no site do UOL.

A decisão é o primeiro golpe internacional contra o ex-ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro. O órgão também concluiu que os direitos políticos de Lula foram violados em 2018, quando ele foi impedido de disputar as eleições.

Depois de seis anos de análise em Genebra, a decisão é legalmente vinculante e, com o Brasil tendo ratificado os tratados internacionais, o estado tem a obrigação de seguir a recomendação. Mas sem uma forma de obrigar os países a adotar as medidas ou penas contra os governos, o comitê sabe que muitas de suas decisões correm o risco de serem ignoradas.

No caso brasileiro, o STF (Supremo Tribunal Federal) já o considerou Moro como tendo agido de forma parcial e anulou as condenações. Mas recomendações ainda serão publicadas pelo comitê da ONU nos próximos dias e podem pedir medidas para reparar o dano sofrido por Lula. O comitê é o encarregado de supervisionar o cumprimento do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, assinado e ratificado pelo Brasil. Tanto o governo como os advogados de Lula já foram informados sobre o resultado do caso, mas o anúncio oficial ocorre apenas nesta quinta-feira.

Chefe de agência atômica da ONU visita Chernobil 36 anos após desastre nuclear

O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), da ONU, está visitando Chernobil, na Ucrânia, para marcar os 36 anos do que ele chamou de “pior desastre nuclear da história”.

Rafael Mariano Grossi disse que sua presença se faz também em respeito às vítimas do acidente de Chernobil e a todos que trabalharam incansavelmente para reconstruir o local.

Guerra na Ucrânia

A explosão de 26 de abril na Usina Nuclear de Chernobil, em 1986, espalhou uma nuvem radioativa a várias partes da antiga União Soviética, que hoje são Ucrânia, Rússia e Belarus.

Pelo menos 8,4 milhões de pessoas foram expostas à radiação.

Esta é a segunda vista de Rafael Mariano Grossi a Chernobil desde o início da guerra na Ucrânia, em 24 de fevereiro.

Desta vez, a equipe da Aiea está entregando equipamento, realizando avaliações radiológicas e restaurando sistemas de monitoramento de salvaguardas.

Na segunda-feira, a Ucrânia informou à agência da ONU que não existe nenhum desdobramento importante sobre segurança nuclear no país. Dos 15 reatores presentes nas quatro usinas nucleares estão, sete estão ligados ao sistema e funcionando, dois se encontram na Usina Nuclear de Zaporizhzhya, que controlada pela Rússia. Oito reatores foram desligados para manutenção ou reserva.

Consequências três décadas depois

Após o acidente nuclear de Chernobil, a então União Soviética levou quatro anos para reconhecer que precisava de assistência internacional. No mesmo ano, a Assembleia Geral adotou uma resolução pedindo “cooperação internacional para enfrentar e mitigar as consequências do desastre da usina nuclear de Chernobil.”

As agências da ONU e organizações parcerias já lançaram mais de 230 projetos de pesquisa e assistência nas áreas de saúde, segurança nuclear, reabilitação, meio ambiente, produção de alimentos limpos e informação.

Em dezembro de 2016, a Assembleia Geral instituiu o Dia Internacional em Memória do Desastre de Chernobil.

A data lembra que apesar de mais de três décadas depois, as consequências sérias do acidente nuclear permanecem afetando comunidades e territórios.

Peritos internacionais pedem a EUA que desbloqueie fundos afegãos

Especialistas em direitos humanos* ligados a ONU, pediram ao governo dos Estados Unidos que autorize o desbloqueamento de que mais de US$ 7 bilhões em ativos do Banco do Afeganistão no exterior para a prestação de ajuda humanitária.

Uma nota publicada, esta segunda-feira, em Genebra, ressalta que a crise crescente coloca metade da população afegã em risco de morrer. A situação tem “impacto desproporcional” sobre mulheres e crianças.

Autoridades em Washington

Os peritos independentes das Nações Unidas dizem que levam ao público suas preocupações e recomendações depois de não terem recebido qualquer resposta das autoridades em Washington sobre o assunto.

Para os relatores, as medidas decretadas pelas autoridades norte-americanas acentuaram a violência de gênero, que ameaça mulheres e meninas afegãs de forma grave. A nota menciona ainda os efeitos da seca e da crescente discriminação de gênero seguida pelas autoridades de facto.

O grupo lembra que o secretário-geral António Guterres classifica a situação humanitária como crise uma “enorme à beira de uma catástrofe de desenvolvimento”.

O apelo feito a todos os países é que reavaliem qualquer medida unilateral adotada e levantem todos os obstáculos à tomada de medidas que assegurem a ajuda financeira e humanitária aos afegãos.

Auxílio alimentar

Mais de 23 milhões de pessoas precisam de ajuda alimentar no país asiático, onde cerca de 95% da população não tem alimentos suficientes.

Existe uma preocupação especial com mais de 4 milhões de deslocados internos, incluindo membros de minorias. Mais de 3,5 milhões pessoas buscam refúgio em países vizinhos.

Para o grupo, não houve progresso significativo em relação à resolução do Conselho de Segurança sobre a criação de isenções humanitárias às atuais sanções sobre fluxos financeiros e comerciais dos Estados e instituições financeiras internacionais. A medida seria benéfica à atuação humanitária e em favor do desenvolvimento no Afeganistão.

Os peritos destacam ainda que os atores humanitários enfrentam sérios desafios operacionais devido à incerteza causada pelas políticas de zero risco dos bancos e pelo cumprimento excessivo de sanções.

Necessidades

Eles pedem particular atenção para a Ordem Executiva nº 14064 prevendo renovar o bloqueio de ativos estrangeiros do banco central afegão.

Além de bloquear os mais de US$ 7 bilhões, indica que poderá ser canalizado a outros fins nos EUA, “ao invés de necessidades humanitárias imediatas e de longo prazo”. 

A medida proíbe “qualquer transação que evade ou evite, tenha o objetivo de evadir ou evitar, cause uma violação ou tente violar qualquer uma das proibições” e “qualquer conspiração formada para violar qualquer uma das proibições estabelecidas nesta ordem”.

Acesso

Os peritos consideram as formulações excessivamente amplas que “podem exacerbar o clima de incerteza entre os atores relevantes, incluindo bancos, empresas e doadores humanitários”.

O resultado pode ser o cumprimento zeloso das sanções, impedindo que o povo do Afeganistão tenha qualquer acesso a bens humanitários básicos.

Os especialistas ressaltam ainda que o direito internacional humanitário prevê que os países assegurem que qualquer atividade sob sua jurisdição ou controle não resulte em violações de direitos humanos.

O pedido feito a Washington é que observando as obrigações legais internacionais “tome todas as medidas apropriadas para reverter esta medida unilateral e contribua de forma decisiva para os esforços em curso para enfrentar a crescente crise humanitária no Afeganistão”.

*Os relatores de direitos humanos são independentes das Nações Unidas e não recebem salário pelo seu trabalho.

Elon Musk compra o Twitter por US$ 44 bilhões

O Twitter aceitou, nesta segunda-feira (25.04.22), a oferta de US$ 44 bilhões (R$ 214 bilhões) feita pelo bilionário Elon Musk para comprar a rede social. A decisão ocorre após o conselho de administração da empresa aprovar a oferta feita aos acionistas.

A aquisição, uma das maiores da história corporativa, pode tornar Musk  com poder de controlar o que ele mesmo definiu como a “praça pública de fato do mundo”.

Elon Musk é diretor executivo das empresas Tesla, que fabrica carros elétricos, e SpaceX, que desenvolve tecnologias de viagens aeroespaciais. Além disso, possui participação em negócios de nanotecnologia e energia solar.

Segundo Brett Taylor, presidente do Conselho do Twitter e diretor executivo da empresa Salesforce, o colegiado realizou uma “análise profunda e abrangente da proposta de Musk com foco nos valores, certeza e financiamento”. Ele acrescentou que essa decisão é a melhor para os atuais acionistas da plataforma.

Repercussão

Em sua conta na rede social, Musk afirmou: “eu espero que até meus piores críticos permaneçam no Twitter, porque é isso o que significa liberdade de expressão”. Em mensagens anteriores na plataforma, ele indicou como prioridades combater contas automatizadas (bots) atuando para divulgação massiva (spams) e autenticar os usuários humanos, embora não tenha detalhado o que isso significa.

A Free Press, associação da sociedade civil que atua com liberdade de expressão nos Estados Unidos, classificou o negócio como um “grande retrocesso para o Twitter”. Segundo a diretora da entidade, Jéssica González, Musk não tem demonstrado a capacidade de responder às demandas e cobranças de autoridades e críticos.

Musk já foi processado e condenado nos Estados Unidos por ter publicado um tuíte de conteúdo falso em 2018 sobre negociações envolvendo a Tesla. Ele também foi criticado por espalhar desinformação sobre a pandemia da covid-19, além de desafiar autoridades sobre medidas de combate à circulação do novo coronavírus.

Musk nasceu na cidade de Pretória, na África do Sul. Ele é filho de Errol Musk, um engenheiro que controlava metade de uma mina de esmeraldas na Zâmbia.

Guterres viaja à Rússia para se encontrar com Vladimir Putin na terça-feira

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, visitará a Rússia na terça-feira, dia 26 de abril. 

De acordo com uma nota divulgada esta sexta-feira (22.04), a agenda de Guterres prevê uma reunião de trabalho e um almoço com o chanceler Sergey Lavrov. Ele será recebido pelo presidente Vladimir Putin.

Guerra

O anúncio foi feito três dias após o pedido de encontros separados feito pelo chefe da ONU aos líderes russo, Vladimir Putin, e ucraniano, Volodymyr Zelenskiy. O propósito é abordar medidas pelo fim dos confrontos na Ucrânia.

Falando a jornalista em Nova Iorque, uma porta-voz do chefe da ONU, Eri Kaneko, explicou o possível conteúdo das conversas na capital russa.

Ela disse que, tal como foi revelado na carta, a mensagem incluirá debate com a liderança russa sobe os passos possíveis para silenciar as armas imediatamente, ajudar as populações e permitir a saída de pessoas que precisam de passagem segura.

Civis

O Escritório de Direitos Humanos da ONU disse que a guerra iniciada há quase dois meses causou a morte pelo menos 2.343 civis. 

O número pode ser ainda maior, tendo em conta que no registro de baixas da população 92,3% de territórios controlados pelo governo.

Atualmente, a entidade das Nações Unidas destacou haver uma grande concentração militar e confrontos na região leste da Ucrânia.

Grandes mamíferos do planeta perderam em média um terço de seu habitat original

O bisão-americano (Bison bison) é o maior animal terrestre da América do Norte. Chegando a pesar quase uma tonelada, esses bovinos selvagens podiam ser vistos em rebanhos que chegavam aos milhões em pradarias num passado muito distante. Sua distribuição foi tão ampla que a espécie era encontrada desde o Alasca até o norte do México.

Quando os primeiros colonizadores europeus colocaram o pé em terras norteamericanas, os bisões foram caçados e mortos até praticamente a extinção. No século 19, restaram menos de cem deles na natureza. Hoje podem ser avistados em pequenas populações, em geral dentro de reservas de proteção.

“Onde o ser humano chega, há extinção de espécies”, lamenta o biólogo Mathias Pires, professor e pesquisador do Departamento de Biologia Animal da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

A afirmação do especialista é fato comprovado. E não é recente: ocorreu desde que o Homo sapiens saiu da África para desbravar outros continentes. Dados históricos, baseados em registros fósseis, revelam que durante o fim do período do Pleistoceno, entre 50 mil e 11 mil anos atrás, houve extinções de muitas espécies de grandes mamíferos no planeta, seja pela caça ou pela conversão de seus habitats naturais em áreas agrícolas ou urbanas, assim como alterações no clima da Terra.

   

Foto de 1892 com uma pilha de crânios de bisões-americanos esperando para serem moídos para fertilizante nos arredores de Detroit (EUA)

“O Pleistoceno tardio é um marco temporal, a época em que começaram a acontecer as grandes migrações do ser humano a partir da África. Há uma sincronia entre a chegada do homem e o desaparecimento de algumas espécies”, salienta a bióloga Lilian Sales, pesquisadora da Unicamp e principal autora de um levantamento inédito que mapeou a distribuição original de 145 espécies de grandes mamíferos.

O estudo mostra como essas espécies tiveram suas áreas reduzidas pelas atividades humanas e, consequentemente, a alteração no tipo de habitat e clima onde elas viviam.

Na pesquisa, que conta com a colaboração também de pesquisadores de instituições nos Estados Unidos e na Dinamarca, os autores apontam que, em média, essas espécies perderam quase um terço de sua área de distribuição original.

Algumas, entre elas o rinoceronte-indiano (Rhinoceros unicornis) e o orangotango-de-sumatra (Pongo abelii), hoje ocorrem em menos de 50% dos tipos de ambientes em que existiam no passado. Outras, como é o caso do rinoceronte-de-java (Rhinoceros sondaicus) e do bisão-europeu (Bison bonasus) estão restritas a uma área equivalente a 1% da área que habitavam.

“É bem documentado nos registros fósseis o impacto da presença do ser humano na redução da distribuição de espécies de mamíferos da megafauna. O objetivo principal do estudo foi analisar se as mudanças na distribuição geográfica dessas espécies levaram a alterações nos nichos que elas ocupam”, explica Lilian.

Espécies da Ásia foram as mais afetadas

Registro de 1895 mostra um rinoceronte-de-java morto por um caçador em Ujung Kulon, extremo oeste da ilha de Java, na Indonésia

A escolha por se estudar os grandes mamíferos, a chamada megafauna, definida como aqueles animais pesando mais do que 44 kg, deu-se porque, pelo tamanho corporal maior, eles deixam vestígios fósseis mais evidentes, assim como padrões de mudanças mais fáceis de serem detectados. E justamente por seu porte é que também se tornaram vítimas mais vulneráveis aos seres humanos.

De acordo com o estudo, a Ásia é o continente onde os animais foram mais impactados pelas atividades do ser humano. Na lista dos que apresentaram a maior redução de suas áreas, além das várias espécies de rinocerontes asiáticos, constam o búfalo-asiático-selvagem (Bubalus arnee), o cervo chinês milu (Elaphurus davidianus) e o antílope órix-da-arábia (Oryx leucoryx). Estes dois últimos, inclusive, foram considerados extintos na natureza, mas graças a programas de reintrodução na vida selvagem, começam a ocupar novamente uma pequena parte de suas áreas originais.

No continente sul-americano, o cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus) e a onça-pintada (Panthera onca) estão entre as espécies que mais tiveram sua distribuição reduzida — com 76% e 40% de perda de seu território, respectivamente. Considerada o maior felino das Américas, a onça-pintada era originalmente observada desde o sudoeste dos Estados Unidos até o norte da Argentina. Hoje está oficialmente extinta em território norte-americano e é muito rara no México.

Refugiados climáticos

Quando Lilian fala em “alterações nos nichos das espécies”, a bióloga se refere a uma combinação de variáveis climáticas, entre elas temperatura, amplitude térmica diária e precipitação de chuvas, por exemplo. Ao serem localmente extintas em boa parte de seus habitats originais ou ao tê-los reduzidos, muitas espécies ficaram restritas a áreas em que o clima não seria o mais adequado para a sua existência.

É o que aconteceu com o rinoceronte-de-java, que hoje está restrito às florestas úmidas do oeste da ilha indonésia de Java, mas no passado ocorria em florestas baixas e de altitude, áreas pantanosas e pradarias úmidas por todo o Sudeste Asiático.

Já a hiena-malhada (Crocuta crocuta) atualmente é um animal associado tipicamente às savanas africanas, entretanto originalmente ocorria em estepes e pradarias por toda Europa e Ásia, e em uma extensão muito maior do continente africano.

Lilian lembra ainda que animais de grande porte necessitam de grandes áreas para viver e possuem baixa taxa reprodutiva, o que os ainda torna mais suscetíveis a essas mudanças.

Por essa razão, os pesquisadores já se referem a alguns deles, assim como os citados rinoceronte-de-java e hiena-malhada, como “refugiados climáticos” (É preciso esclarecer, entretanto, que o termo é usado de uma maneira diferente daquela que estamos acostumados a utilizar em relação aos seres humanos).

“Muitas espécies que conhecemos hoje na verdade se encontram em climas subótimos, não nos climas em que os seus antepassados viviam. Isso se deve porque as populações dessas espécies em climas ótimos foram extintas pelo homem”, reforça outro co-autor do artigo, Mauro Galetti, professor titular da Universidade Estadual Paulista e professor assistente da Universidade de Miami.

Diante desse cenário, os cientistas ressaltam que é preciso levar em conta essas mudanças nas áreas de distribuição histórica das espécies para se fazer projeções sobre o futuro e planejar melhores ações de conservação. Sem considerar onde esses animais já viveram originalmente, segundo os autores do estudo, podemos nos enganar sobre os ambientes mais propícios a eles e que podem ter melhores chances para impedir suas extinções.

“Ao ignorar o passado e olhar apenas para o presente, só temos a perspectiva de ambientes já depauperados. É necessário considerar também o habitat dessas espécies antes da chegada do Homo sapiens”, diz Pires.

O presidente norte-americano Theodore Roosevelt posa com uma onça-pintada recém abatida por ele durante sua expedição à Amazônia brasileira em 1913. Foto: Kermit Roosevelt/American Museum of Natural History, via Wikimedia Commons

Nos dias de hoje a grande maioria dos modelos para predizer as respostas das espécies às mudanças climáticas é baseado nas ocorrências atuais, mas se eles mostram apenas um pedacinho das áreas que esses animais ocuparam, podem estar fazendo um diagnóstico incorreto.

“Todas as espécies no planeta estão restritas no espaço por algumas poucas variáveis, como temperatura e umidade. Isso é fácil de entender, se você quer saber onde está um urso-polar (Ursus maritimus), verá que ele se encontra em regiões frias e de alta latitude e com baixa pluviosidade. Pois bem, se extinguirmos 90% dos ursos-polares, e no futuro os cientistas tentarem reconstruir sua distribuição baseados apenas naqueles que existem, terão um “mapa” errado do clima ideal em que eles viviam”, exemplifica Galetti.

O que o especialista quer dizer é que as condições climáticas no Ártico não são homogêneas. Há localidades mais quentes e mais frias, outras em que a temperatura varia mais ao longo do ano, regiões onde chove mais. Ou seja, num projeto de conservação futuro para a reintrodução do urso-polar, caso ele se torne praticamente extinto, se somente for levado em conta o mapa de sua presença atual, ele não representará a verdadeira área de distribuição da espécie ao longo dos últimos séculos. E isso pode influenciar no resultado obtido.

Para os autores do estudo, a sobrevivência da fauna do planeta depende de um olhar cuidadoso para o passado, há milhares de anos, e não somente para o nosso presente, já tão empobrecido ambientalmente.

Com  informações da Agência Mongabay

CÊ VIU VÍDEO? Janja corre pros braços de Lula ao som de “Você me abre seus braços e a gente faz um país”

Após encerrar seu discurso em Madri, Espanha, durante o evento Construindo o Futuro: Desafios e alianças Populares, organizado pelo partido espanhol Podemos e que reuniu sindicatos, legendas e lideranças progressistas europeias, no sábado, 20/11/21, a noiva do ex-presidente Lula, Rosângela Silva (Janja), protagonizou uma cena que “quebrou” a web.

        Ao final do discurso, chamada pelo petista para os agradecimentos finais, Janja literalmente corre emocionada de braços abertos e dá um abraço em Lula (naturalmente correspondido).  O momento romântico que levou a plateia ao delírio foi capturado por fotógrafos e cinegrafistas e está sendo um dos assuntos mais comentados e divulgados nas redes sociais de internet.

        “Você me abre seus braços e a gente faz um país …”, postou Janja no Twitter o trecho da música Fullgás da cantora Marina Lima, que também embala o vídeo.

        “Um país, com muito amor e esperança. Terminando nossa viagem pela Europa. Obrigada a todos e todas as que nos receberam com tanto carinho e energia, voltamos revigorados com a definição que um outro Brasil é possível”, completou a petista.

Ataque contra estação de Kramatorsk deixa dezenas de mortos e feridos

Mais de 39 pessoas morreram e pelo menos 87 ficaram feridas em ataque que atingiu a estação ferroviária de Kramatorsk nesta sexta-feira (8). As autoridades locais dizem que a ação ocorreu no momento em que centenas de pessoas tentavam sair do Leste da Ucrânia.

De acordo com o governador de Donetsk, Pavlo Kyrylenko, foram registrados 39 mortos e 87 feridos. O balanço inicial indicava pelo menos 30 mortos e 100 feridos.

Morreram pelo menos quatro crianças, segundo os serviços de segurança da Ucrânia.

O ataque visou a uma estação de trem que estava sendo utilizada para a retirada de civis do Leste da Ucrânia, disse o governador. 

“Milhares de pessoas estavam na estação no momento do ataque com mísseis. Os moradores da região de Donetsk estão sendo retirados para áreas mais seguras do país”, acrescentou no Telegram.

O prefeito da cidade de Kramatorsk, Oleksander Honcharenko, informou que cerca de 4 mil pessoas, a grande maioria idosos, mulheres e crianças, estavam na estação no momento do ataque.

Moscou negou qualquer envolvimento nos acontecimentos de Kramatorsk e desmentiu que as forças russas tenham desencadeado o ataque.

Em comunicado citado pela agência RIA, o Ministério russo da Defesa argumentou que o tipo de míssil utilizado costuma integrar o arsenal dos militares ucranianos e que é semelhante ao que atingiu o centro da cidade de Donetsk, em 14 de março.

Joseph Borrell, chefe da diplomacia da União Europeia, que está a caminho de Kiev acompanhado pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, condenou o que considera “ataque indiscriminado”.

“Os russos sabiam que a estação ferroviária de Kramatorsk estava cheia de civis À espera de serem retirados. Ainda assim, atingiram-na com um míssil balístico, matando pelo menos 30 e ferindo pelo menos 100 pessoas. Esse foi um massacre deliberado. Levaremos cada criminoso de guerra à Justiça”, disse no Twitter o ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba.

Rússia é suspensa do Conselho de Direitos Humanos da ONU

A Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) aprovou, nesta quinta-feira (7/4), uma resolução suspendendo os direitos de participação da Federação Russa no Conselho de Direitos Humanos. O debate ocorreu após a violência reportada contra civis em Bucha, nos arredores da capital ucraniana, Kyiv, na última semana.

A votação previa maioria por dois terços dos votos válidos para ser adotada. O texto obteve 93 votos a favor, 24 contra e 58 abstenções. O Brasil discursou dizendo que iria se abster. Esta foi também a posição de Angola, Cabo Verde, Moçambique e Guiné-Bissau. Portugal e Timor-Leste votaram pela adoção da resolução. São Tomé e Príncipe não participou da sessão.

Resolução

A resolução afirma que há violações e abusos “grosseiros e sistemáticos” contra os direitos humanos cometidos pela Rússia durante a agressão contra a Ucrânia.

O texto cita as duas resoluções aprovadas pela Assembleia Geral sobre a guerra no leste europeu, adotadas em março, que repudiam a violência russa.

O documento expressa preocupação com a atual crise humanitária e de direitos humanos, baseada nos relatórios de violações dos direitos humanos e do direito internacional humanitário pela Rússia.

De acordo com o conteúdo, foram levadas em conta as expressões de preocupação nas declarações do secretário-geral da ONU, António Guterres, e da alta comissária para Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet. 

A última atualização sobre a situação dos direitos humanos na Ucrânia, elaborada pela Missão de Monitoramento dos Direitos Humanos na Ucrânia, também foi considerada pelos autores da resolução.

Além de suspender os direitos de participação da Rússia no Conselho de Direitos Humanos, o texto prevê que a Assembleia Geral afirme que deve revisar o assunto, conforme apropriado e adiar, temporariamente, a 11ª sessão especial de emergência da Assembleia, autorizando a retomada mediante a solicitação dos Estados-membros.

Reunião

O embaixador da Ucrânia na ONU, Sergiy Kyslytsya, abriu o debate relembrando os primórdios do Conselho de Direitos Humanos e seus princípios, afirmando que as cenas vistas nas últimas semanas contra seu país vão contra eles.

Ele afirmou que a suspensão dos direitos de membro da Federação Russa no Conselho de Direitos Humanos por parte da Assembleia Geral “não é uma opção, mas um dever”, evocando o compromisso de retirar Estados que cometessem “violações graves e sistemáticas dos direitos humanos”.

O representante russo, Gennady Kuzmin, falou em resposta, alegando que a resolução é uma tentativa de isolar o país, a partir da iniciativa de alguns membros da ONU. Para ele, a Rússia defende, consistentemente, o princípio de cooperação, baseado em respeito mútuo.

Ele também rejeitou as alegações contra o país, que afirma estarem baseadas em informações falsas. Kuzmin pediu aos países que votassem contra o texto para proteger a arquitetura dos direitos humanos.

Brasil

Representando o único país de língua portuguesa a justificar o voto, o embaixador do Brasil na ONU, Ronaldo Costa Filho, lamentou os ocorridos em Bucha, afirmando que as imagens e relatos de torturas e mortes são profundamente perturbadoras.

Ele lembrou que uma comissão de inquérito está trabalhando para investigar as violações aos direitos humanitários. 

Costa Filho disse que todas as partes devem colaborar para que o trabalho seja concluído de forma precisa e imparcial.

O representante brasileiro declarou que o país iria abster-se do voto, buscando uma conclusão da comissão de inquérito para responsabilizar as partes de forma acertada.  Para ele, apenas após a finalização das investigações, a Assembleia Geral estaria numa posição adequada para avaliar a permanência da Rússia no Conselho.